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Análises a vários filmes

Descrito pelo realizador John Carpenter como um acordo contratual pelo qual não sentiu verdadeira paixão, Village of the Damned não deixa de ser uma obra interessante na sua filmografia. A premissa é intrigante e cheia de suspense, mas o final poderá ser frustrante para quem espera uma conclusão redonda. O efeito especial nos olhos das crianças é excelente. O cabelo platinado dá-lhes personalidade, e ao filme também. Carpenter aposta na sugestão em vez de mostrar explicitamente algumas mortes, uma decisão acertada: menos é mais. Se o filme tivesse arrecadado mais dinheiro (com um orçamento de 22 milhões de dólares, faturou apenas 9 milhões nos EUA - deve ter doído à Universal), atrevo-me a dizer que hoje veríamos nos cinemas uma continuação chamada David, que seguiria a vida adulta da criança diferente das outras; John Carpenter provavelmente voltaria para compor a banda sonora. Vale a pena ver, nem que seja para completar a filmografia incrível do realizador.

 

The Thing (estupidamente traduzido para Veio do Outro Mundo), o original de 1982, tem uma premissa interessante, mas a forma como é desenvolvido deixa muito a desejar. O meu principal problema com o filme - que, sendo realizado por John Carpenter, é filmado de forma competente - é que o argumento não se foca em nenhuma personagem, nenhuma delas é bem desenvolvida, não há ninguém que se destaque, e acho que isso prejudicou muito a obra e a forma como o espetador se liga (ou não) à história. De resto, os efeitos estão especialmente nojentos (no bom sentido; são tão credíveis que fiquei sinceramente enjoado) e há duas ou três cenas que ficam na memória. O remake de 2011 (não percebo como há pessoas que lhe chamam prequela) comete os mesmos erros do "original", só que sem o talento de John Carpenter, o carisma de Kurt Russell e os efeitos práticos são substituídos por um CGI absolutamente grotesco, e falta-lhe a tensão do filme de 1982.

 

Realizado por James Foley (que comandou o segundo e o terceiro filmes de As Sombras de Grey, e realizou episódios de Twin Peaks eWayward Pines), este pequeno thriller perfeito, descrito pelo produtor executivo Brian Grazer como «Atração Fatal para adolescentes», é um ótimo passatempo. Inicialmente ridicularizado pela crítica, o filme eventualmente tornou-se uma obra de culto e consolidou Mark Whalberg e Reese Witherspoon, que estavam romanticamente ligados na altura da estreia, como ídolos adolescentes. O filme foi um sleeper hit, um termo que descreve uma obra que se torna um sucesso gradualmente, muitas vezes com pouca promoção. Com diálogos bem escritos (e pérolas como «Então ele bateu-te. Às vezes essa é só a forma idiota deles de mostrarem que te amam», que me fez parar o filme para pensar no quanto a sociedade evoluiu), uma banda sonora cativante à base de soft rocke uma boa dose de química entre os protagonistas, o filme faz-nos apaixonar por David em conjunto com Nicole, apenas para termos o coração partido assim que ele se revela um verdadeiro psicopata, culminando num clímax que resulta e nos faz sofrer por Nicole e a sua família, porque afeiçoamo-nos a eles ao longo do filme. Acho que me vou lembrar sempre de duas cenas em específico quando pensar neste filme: a cena na montanha-russa (vejam o filme e descubram do que estou a falar) e quando Tobias, o irmão de Nicole, chama o cão da família e vemos a cabeça dele a entrar pela portinhola, mas... o resto do corpo não vem com ela. surprised Recomendo vivamente o filme.

 

They (2002)

Wes Craven apresenta... um filme medíocre na produção do qual ele não esteve envolvido, mas alguém decidiu que era boa ideia associar o nome dele ao projeto e ele não dispensou o cheque. Com uma fotografia insípida, uma história genérica e vaga, e um elenco desconhecido e tão pouco talentoso que até dói (a protagonista,Laura Regan, fez literalmente apenas mais cinco filmes depois deste, um deles lançado diretamente em DVD), Eles não consegue assustar e, pior ainda, entreter. Como se não bastasse, em vez de se decidir pela vertente sobrenatural do filme, que é o que toda a gente quer ver, Eles insiste na ambiguidade da situação e sugere que tudo pode não passar de uma espécie de alucinações coletivas, incluindo coisas desnecessárias na história, como traumas de infância que poderiam ter despoletado os terrores noturnos e causado uma espécie de stress pós-traumático, um psicólogo irritante que não faz literalmente falta nenhuma no enredo, e, o pior de tudo, uma protagonista que está a estudar psicologia e tenta defender uma tese, como se isso fosse algo interessante de ver num filme de terror. Com uma hora e meia que mais  parecem três, o filme arrasta-se, enfadonho, com uma protagonista desinteressante, nada carismática, que grita que se farta e só nos faz desejar que os monstros finalmente a levem para ela se calar e o filme acabar. Elesaté começa bem e com uma atmosfera sinistra, mas depressa descamba. No entanto, achei as criaturas razoáveis para um filme de 2002. Há dois finais alternativos: um em que é revelado que Julia é esquizofrénica e todas as pessoas da sua história - o Dr. Booth, o Billy, o Sam e a Terry - são pacientes num hospital psiquiátrico e o seu namorado Paul é um médico (disponível no DVD); e outro mostrado em sessões-teste (e rejeitado) em que Julia convence os médicos de que está bem, apenas para chegar a casa e voltar a ser atormentada por Eles™.

 

Altered (2006)

Altered, que por cá recebeu o horrendo título Mutantes (o que remete para um spinoff qualquer dos X-Men), é o segundo filme realizado por Eduardo Sanchez depois do sucesso Projeto Blair Witch. Como acontece frequentemente com realizadores que se estreiam com grandes sucessos, o seu segundo filme deixou a desejar. Mas, se virmos com baixas expetativas e nos entregarmos ao que o filme propõe - um creature feature de baixo orçamento com elementos de ficção científica e body horror que conta uma história de vingança  - é uma experiência satisfatória. Claro que a cinematografia deixa a desejar, e a história desenvolve-se aos atropelos - somos atirados no meio da ação sem saber o que está a acontecer e vamos descobrindo as coisas aos poucos. O meu maior problema foi o elenco. Atores desconhecidos num filme como Projeto Blair Witch é excelente - afinal, isso foi essencial para a genial campanha de marketing que convenceu muitas pessoas que o filme era real - mas neste tipo de obra, não haver uma única cara conhecida faz com que o filme passe despercebido. E se os atores fossem desconhecidos mas interessantes e atraentes, menos mal - mas não, são todos parolos (exceto Adam Kaufman, que interpreta Wyatt). Inicialmente, o filme seria uma homenagem cómica ao trabalho de Sam Raimi, com o sugestivo título Probed. Ainda bem que não levaram essa ideia avante...

 

Lembram-se quando estava na moda fazer remakes americanos de filmes de terror asiáticos? Essa tendência gerou alguns sucessos, como The Ring e The Grudge, alguns filmes sem graça, como Dark Water, e algumas abominações, como One Missed CallPulse está mais ao nível de The Ring e The Grudge, mas não chega a atingir a qualidade dessas duas produções, havendo alguns elementos que nos fazem lembrar esses dois filmes, nomeadamente a fotografia esverdeada muito semelhante à de The Ring e a morte inevitável depois de assistir a um vídeo tal como nesse filme - aliás, o produtor Bob Weinstein tinha cancelado a produção de Pulse por ser demasiado parecido com The Ring. Estando longe de ser uma obra-prima, o filme tem bons efeitos especiais, consegue entreter e pode funcionar como uma metáfora sobre como a tecnologia está em todo o lado e é impossível escapar dela. Há algumas surpresas no elenco.Kristen Bell (que na altura protagonizava a série Veronica Mars) está razoável, embora preferisse ver Kirsten Dunst no papel (originalmente seria ela a interpretar Mattie); Brad Douriff, a voz de Chucky, tem um cameo no meio do filme; e Octavia Spencer(sim, a vencedora de um Óscar!) dá vida a uma senhoria empertigada. Não recomendo o filme porque é um tanto insípido, mas se não tiverem nada para fazer, também não se vão arrepender, prometo que acaba rápido. A dada altura, Wes Craven ia realizar e chegou a escrever o argumento, mas após o projeto ser cancelado por Bob Weinstein, Ray Wright foi contratado para o reescrever, eJim Sonzero acabou por ser o realizador. Na época do lançamento, Craven disse: «Não tive qualquer influência no filme que estão prestes a lançar». Teria sido melhor com ele na cadeira de realizador e com o seu argumento original? Nunca saberemos. Vale a pena ver as duas sequelas? Não sei. Ambas foram lançadas diretamente em DVD em 2008 (!). Não tenho interesse em vê-las, porque parecem produções baratas e descartáveis, e receberam péssimas críticas.

 

O Cubo prende-nos do início ao fim, o que é um grande feito para um filme que decorre totalmente dentro de... bem, cubos. É impossível não pensar em filmes como Saw e Escape Room quando o vemos hoje em dia, mas em 1997 não devia haver muitos tipos de referência para este tipo de coisa. Um dos grandes trunfos do filme está nas suas personagens, que são interessantes, o que nos faz torcer por elas (e odiar uma delas). A banda sonora consiste em sussurros e gritos macabros, o que contribui muito para o ambiente sinistro do filme. Outro dos grandes méritos do filme é o seu suspense. Afinal, não sabemos porque é que aquelas pessoas estão ali, é como se estivéssemos a passar pela mesma situação que elas. Há um momento particularmente tenso a meio do filme, quando as personagens têm de atravessar uma sala cujas armadilhas são ativadas por som, e portanto não podem fazer barulho. O Cubomexeu comigo, e fiquei curioso para ver as duas sequelas, Cube 2: Hypercube (2002) e Cube Zero (2004).